Reiniciar



Recomeçar é diferente de começar pela primeira vez.

Voltei a fazer uma graduação; uma segunda graduação. Imagino que terei que fazer alguns trabalhos em grupo – mas com minha idade avançada e maturidade de vida, como lidarei com as/os colegas da turma, em sua maioria muito jovens? A diversidade que queremos abrigar em nossas universidades, além de cor-raça, gênero e orientação sexual, inclui também a diferença de idade e formação?

Há mais de 15 anos na frente das turmas, como me sentirei ao ir me sentar no fundo da sala, largar o comando, baixar a guarda e me calar, pacientemente ficar escutando o que um/a professor/a tem a dizer e a determinar o que tenho de ler-fazer-pensar-escrever, ter de obedecer sem negociar – o jogo virou, como irei me sentir?

Voltarei a fazer provas – como lidarei com isso? Quanto mais fui estudando ao longo da vida, mais fui me cobrando, e agora terei que voltar a provar meu valor, me submeter à avaliação de alguém que terá o poder de dizer se me expressei adequadamente, se aprendi/compreendi bem, que definirá uma nota-valor para me dizer se sou bom o suficiente. Não tirar 10 é receber um certificado de ignorância. Mas se é impossível saber tudo e nem tudo me interessa saber, faço o quê: resigno-me à ignorância ou engulo o que não quero aprender? Não queria voltar a passar por isso, ninguém deveria passar por isso nem pela primeira vez. Quando iremos repensar o exame-prova, a obrigatoriedade da nota, as disciplinas obrigatórias e o sistema de reprovação?

Sigo trabalhando, a vida não para. Não serei o aluno dedicação-exclusiva que nem cheguei a ser na primeira graduação. Não conseguirei cursar 5 a 6 disciplinas por período, como estipulado no currículo; no máximo, conseguirei cursar 3 disciplinas por semestre, o que é o mínimo exigido pela instituição. Dessa forma, se tudo der certo, conseguirei completar o curso em 8 ou 9 anos, mas serei jubilado se não terminá-lo em 7 – é desanimador começar o curso já duvidando da possibilidade de concluí-lo. Percebo e compreendo melhor as dificuldades relatadas pelas/os estudantes – quase todes trabalham de manhã e tarde, depois seguem para a universidade já cansados. É preciso investir todo o final de semana para colocar os estudos em dia? Ainda que exista alune dedicação-exclusiva, as tantas e os tantos outres que não têm esse privilégio, fazem como?

Na balança, a empolgação do desejo de começar um curso novo versus as dificuldades limitantes para conseguir realiza-lo. Será que estou velho demais, formado demais ou trabalhando demais para fazer uma (segunda) graduação? Mas a universidade é inclusiva – ou ainda não é?

Comentários